A Teoria de Libras


Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais. É a língua oficial da comunidade Surda Brasileira, e como toda língua, possui sua estrutura gramatical própria. Uma característica interessante da Libras é que pelo fato dela ser  feita através de modalidade gestual-visual e por possuir sua própria estrutura gramatical, os surdos de países com línguas de sinais diferentes comunicam-se com mais facilidade uns com os outros. Diferentemente dos falantes de línguas orais que necessitam de maior tempo para entenderem o estilo da estrutura lingüística que o outro fala.

Os sinais são formados a partir da combinação de movimentos das mãos com um determinado formato e em um determinado local, podendo ser este local uma parte do corpo ou um espaço situado na frente do corpo.

A gramática de Libras é baseada por cinco parâmetros: a configuração das mãos, o ponto de articulação, o movimento, a orientação das mãos e a expressão facial e corporal.

O primeiro se refere à forma das mãos presente ao representar o sinal, estas sempre são realizadas pela mão dominante da pessoa. O segundo refere-se ao lugar onde incide a mão predominante, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço vertical ou horizontal na frente co corpo. O terceiro é o tipo de movimento apresentado para representar o sinal. O quarto significa a direção utilizada pela pessoa ao representar tal sinal. O quinto parâmetro é importantíssimo, já que é através dele que se expressa a real intenção daquilo que se deseja transmitir. Ao se falar de sentimentos, sinais que utilizam a região facial ou a sinais que necessitam de um complemento através de sons e expressões faciais para dar sentido ao traço manual praticado, é que este parâmetro se revela como um dos mais importantes. Para os ouvintes que desejam aprender Libras, este é um dos parâmetros considerados mais difíceis, uma vez que ao falarmos sobre as coisas em geral, emitimos os questionamentos, as afirmações ou negações pelo tom das frases enunciadas e utilizamos as expressões faciais como um movimento secundários. Os surdos, ao contrário, utilizam nas expressões para evidenciar suas perguntas, ou negações, ou seja, são nas expressões que marcam a intenção da fala, a proposta e o sentido o qual desejam para se comunicar.

Uma questão interessante sobre teoria de Libras é que há diferenças no que tange a comunidade surda e a cultura surda. A comunidade surda é um grupo de pessoas que moram em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas. A comunidade surda pode ter também ouvintes e surdos que não são culturalmente surdos.  Já a cultura da pessoa surda é mais fechada do que a comunidade surda. Membros de uma cultura surda se comportam como as pessoas surdas, usam a libras e compartilham das crenças dos surdos entre si e com os ouvintes.

Conceitua-se a cultura como todo aquele complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, leis, costumes e todas as capacidades de hábitos adquiridos pelo homem, como membro de uma sociedade. A cultura nos permite compreender o sentido daquilo que outras pessoas fazem, é adquirida socialmente e, a língua é parte essencial do desenvolvimento cultural.

A comunidade surda é constituída por sujeitos que usam comunicação visual. Os grupos de surdos como qualquer outro grupo cultural, são decorrentes das constantes mudanças que acontecem na sociedade, são conseqüência da fragmentação das identidades culturais.

A cultura surda como diferença, constitui-se numa atividade criadora, diferente da cultura ouvinte, é disciplinada por uma forma de ação e atuação visual que possibilita ao surdo desenvolver sua autonomia. Uma determinada cultura é passada de geração em geração, de pais para filhos. No caso do surdo isso não acontece, porque 95% deles são filhos de pais ouvintes, que não conhecem a libras e não participam das comunidades surdas.

Um tópico que ratifica os surdos enquanto minoria lingüística se refere à existência de um bilingüismo social e individual. O primeiro é quando uma comunidade, por algum motivo precisa utilizar duas línguas, o segundo é a opção de um indivíduo para aprender outra língua além da sua materna. Geralmente os membros das minorias lingüísticas se tornam indivíduos bilíngües por estarem inseridos em comunidades lingüísticas que utilizam línguas distintas. É o caso dos surdos, por exemplo, já que eles se organizam  pela utilização de uma língua gestual-visual.  É interessante notar que se uma criança surda puder aprender libras, através de sua comunidade surda, ela terá mais facilidade em aprender posteriormente a língua oral-auditiva da comunidade ouvinte a qual ela também pertence. Isso porque no aprendizado de uma língua, ao qual ela não pode ouvir os sons que emite, ela, a priori, traz internalizado o funcionamento e as estruturas lingüísticas de uma língua já sabida, no caso a libras. Logo, a criança poderá receber em seu processo de aprendizagem um retorno do outro (feedback) que serve de reforço para orientá-la no processo de conhecimento dessa nova língua.

Na gramática da Libras existem as polissemias, as homonímias e a derivação. E os tipos de verbos são divididos em dois: os verbos que não possuem marca de concordância e os que possuem a marca. Este segundo tipo também é subdividido em aqueles que possuem concordância número-pessoal, os verbos classificadores (a configuração de mão é uma marca de concordância de gênero) e os verbos que possuem concordância com a localização.

O surdo não é deficiente, é apenas diferente, com signos diferentes dos ouvintes, os surdos têm signos visuais, enquanto os ouvintes têm signos auditivos.  Assim, o indivíduo surdo possui identidades, que são construídas a partir de questões sociais, familiares e o poder da própria cultura ouvinte. Existem cinco categorias  de identidades surdas, uma vez que existem diferenças entre eles.

1- Identidade Surda: são pessoas que têm identidade surda plena, geralmente são filhos de pais surdos, tem consciência surda, são mais politizados, têm consciência da diferença e tem a língua de sinais como língua nativa.

2- Identidade Surda Híbrida: são surdos que nasceram ouvintes e, posteriormente, tornam-se surdos, mas conhecem a estrutura da língua oral falada em seu país.

3- Identidade Surda de Transição: são os surdos oralizados, que foram mantidos em uma comunicação auditiva. São filhos de pais ouvintes e só depois descobrem a existência da comunidade surda.

4- Identidade Surda Incompleta: são os surdos que são dominados pela ideologia ouvinte, eles não conseguem quebrar o poder dos ouvintes que fazem de tudo para medicalizar o surdo, negando, portanto, a identidade surda como uma diferença. São surdos estereotipados e vêem os ouvintes como pessoas superiores.

5- Identidade Surda Flutuante: são os surdos que têm consciência da sua própria surdez. São pessoas conformados e acomodadas às situações impostas pelos ouvintes, não fazem parte da militância pela causa surda, geralmente oscilam entre uma comunidade e outra, sem conseguir viver em harmonia.


                                                                                       Aluna: Anna Paula Rezende