Entrevista na APAE – Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais


A APAE de São Gonçalo existe há 40 anos. Possuía o foco na área educacional/escolar e ambulatorial (atendimento). Porém em fevereiro de 2011, a área escolar foi suspensa pela instituição de acordo com a política de inclusão de alunos deficientes em escolas de ensino regular, instituída pelo Governo Brasileiro.
As crianças sentiram muito com o término da escola na APAE, ocorrendo, assim, um desestímulo tanto dos pais como da equipe como um todo. Ocorreram alguns abandonos, mas nada tão significativo que prejudicasse o trabalho e a proposta assistencial que a APAE fornece.

A APAE assiste crianças com deficiência intelectual, autismo, psicótico, paralisia cerebral. A princípio, o propósito de trabalho da instituição era fornecer assistência e suporte às crianças com deficiência mental, porém com a crescente demanda da clientela e devido os problemas de falta de instituições especializadas pelo município de São Gonçalo, a APAE abriu às portas para atender outros tipos de transtornos e até mesmo à crianças que não apresentam nenhum tipo de retardo mental, mas que possuem dificuldades ligadas a atenção, a aprendizagem.

Atualmente a APAE fornece atendimento especializado nas áreas de psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, musicoterapeuta, terapia ocupacional, neurologia, clínica médica, pediatria, musicoterapia, educação física, odontologia e assistência social.

Quando a instituição possuía ensino escolar, este era dividido em classes de acordo com a idade e a média de aprendizagem da turma. Hoje, no entanto, as crianças são ingeridas em escolas de ensino regular e continuam tendo acesso ao atendimento especializado na APAE. Geralmente, a maioria das crianças é encaminhada para o Ciep que fica ao lado da APAE. As que possuem uma deficiência mental mais severa recebem apoio do governo através de um professor particular em casa. Além desse auxílio, o governo fornece o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e a bolsa-família.

O ambulatório da APAE possui três serviços: estimulação precoce, reabilitação e oficina terapêutica.
A estimulação precoce é destinada às crianças de 0 a 4 anos, através de trabalhos de cunho psicológico, médico e social a fim de estimular o desenvolvimento.

A reabilitação foca em crianças na faixa de 4 a 14 anos, prestando trabalhos ligados à estimulação sensorial, cognitiva. Realiza atendimentos nos setores em que detectarem a necessidade de um acompanhamento profissional e a socialização, seja através da ludoterapia, da terapia ocupacional e da orientação aos pais.

As oficinas terapêuticas abrangem pessoas na faixa dos 14 em diante, são espaços destinados à socialização e a estimulação de suas habilidades em prol da inserção no mercado de trabalho. Há grupos que atendem aos jovens que apresentam deficiência assim como aos pais que buscam uma orientação e um apoio para compreender as limitações e possibilidades que seus filhos possuem.

O encaminhamento à APAE é realizado pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) que se apresenta como uma ponte que liga à população e a instituição. O primeiro atendimento da APAE é realizado por uma assistente social, após isto é direcionado a um neurologista, depois ao psicólogo e fonoaudiólogo. Após essas triagens e avaliações, a equipe multidisciplinar realiza uma reunião para avaliar de uma forma geral a real necessidade daquela criança e quais atividades serão conduzidas para ela. Resolve-se, então, que a criança será assistida pela APAE ou ela é encaminhada a outra instituição.

O processo de alta é realizado com o mínimo de seis meses de acompanhamento para fazer um feedback e uma avaliação geral do desenvolvimento alcançado pela criança.

O trabalho da psicologia segue uma linha de atendimento voltado ao social, onde na maioria das vezes os encontros são grupais a fim de promover cada vez mais a socialização, a integração e o desenvolvimento daquelas pessoas. As oficinas são espaços para a aproximação dessas crianças umas com as outras, além de uma oportunidade para falarem de si, dos seus problemas e questionamentos. O grande objetivo é estimular a expressão, as opiniões aliados ao ensino (ex de dramatizações que transmitem ensinamentos do cotidiano). É um desafio constante porque além dos profissionais terem que frear sua ansiedade e entender que a apreensão dessas crianças possui um ritmo diferenciado, os pais, algumas vezes, demonstram certa resistência em ver os filhos como jovens ou adultos. A maioria acaba infantilizando os filhos, como se fossem eternos bebês, contribuindo com a continuidade do trabalho que é iniciado na instituição nas suas casas. O grande intuito do psicólogo além de apoiar a criança ou o adolescente é estimulando um amadurecimento para que consigam se desenvolver ao máximo e assim sentirem com menos intensidade os obstáculos que se apresentam no meio social.

Entrevistadas: Elizabeth Simões- assistente social há 7 anos na APAE
                               Andréa Bezerra- psicóloga há 10 anos na APAE