RELATO
Grupo: Vanessa Martins, Giselle Dantas e Letícia Gomes
No dia 10 de maio de 2011, um dia aparentemente comum para mim e para muitas pessoas, ocorreu um fato que me suscitou um momento de reflexão e, acima de tudo, de sensibilização com uma das muitas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência.
Estava num ônibus, daqueles que são adaptados para os deficientes, indo para a faculdade. Neste ônibus, havia um rapaz deficiente físico, com prótese em suas duas pernas, que estava sentado num banco destinado aos acompanhantes dos deficientes.
Decorridos alguns minutos, observei que aquele mesmo rapaz puxou a “sirene” do ônibus, tendo em vista que desejava descer no próximo ponto, que ficava em frente à Andef (Associação Niteroiense de deficientes físicos). Local onde, possivelmente, ele era usuário. Ora, a ação de descer de um ônibus, pode ser algo banal para muitas pessoas, mas para aquele homem tornou-se um episódio marcado pela humilhação e pela insensibilidade dos que o rodeavam.
Assim, após ter soado a “sirene”, o ônibus parou no respectivo ponto. Neste momento, era perceptível que o rapaz estava tendo dificuldades para levantar do banco em que estava sentado. Ele, portanto, apoiou-se nos ferros do ônibus na tentativa de se levantar, mas estava tendo muitas dificuldades, já que não podia dobrar suas pernas. Sob muito esforço e nenhuma ajuda, o rapaz conseguiu ficar em pé com o apoio de muletas, e se arrastou até a porta do ônibus onde se deparou com a “escada adaptada”. Ele olhou para os lados, abaixou a cabeça e com uma voz ressabiada falou: “Eu não consigo descer”.
O motorista do ônibus mostrou-se indiferente à situação, e ao invés de ajudar o passageiro a descer, através do acionamento da plataforma elevatória, disse ao cobrador que não iria fazer nada. O cobrador, por sua vez, diante da atitute anti-ética e desumana do motorista pegou o aparelho para acionar a plataforma elevatória e buscou ajudar o passageiro a descer. Assim, quando ele foi apertar o botão do aparelho percebeu que o mesmo não estava funcionando, e afirmou: “este aparelho novamente não está funcionando”. O motorista bruscamente levantou do seu banco, e veio em direção à porta com uma face que refletia sua raiva diante da situação. O cobrador, disse a ele: “Nós avisamos na garagem que esse aparelho não estava bom, e mesmo assim eles deixaram que o carro seguisse viagem, agora o que temos que fazer é ajudá-lo a descer”. O motorista simplesmente saiu do ônibus, sentou-se na calçada e novamente afirmou numa voz exaltada: “Já disse que não posso fazer nada”.
Diante da situação, pude observar o quanto os passageiros se mostraram indiferentes e preocupados com o tempo que estavam perdendo com aquele ônibus parado. Muitos deles tiveram a seguinte afirmação: “Só acontece essas coisas quando estou atrasado para o trabalho”. Infelizmente, em nenhum momento percebi a preocupação e a sensibilização dos mesmos com a situação vivenciada por aquele rapaz. Eles, portanto, estavam mais preocupados com a sua vida, com o seu emprego e com o tempo perdido. Tendo em vista que, por serem fisicamente “normais”, nunca teriam que passar por uma situação como essa. Então, por que se preocupar com aquele rapaz?
Os olhos entristecidos do rapaz refletiam o quanto aquela situação o machucava e o humilhava. Mesmo diante de toda essa situação, o rapaz pediu desculpas ao cobrador, essa atitude demonstrava que o rapaz estava se sentindo culpado por tudo aquilo, embora fosse a única pessoa correta em meio àquela situação.
Passados alguns minutos, o ônibus já praticamente vazio, o motorista resolveu ajudar o cobrador a segurar o rapaz e a descê-lo pela escada.
Esse episódio, não é o primeiro nem o último marcado por uma situação de impunidade contra pessoas com deficiência. Estas, embora tenham conquistado o direito à acessibilidade nos ônibus, têm que lidar com a precariedade desse serviço e com a exacerbada individualidade das pessoas que permeiam a sociedade.